Adriano
Guedes Carneiro
Doutorando em Literatura Comparada (CAPES/UFF),
2022. Mestre em Estudos Literário, subárea Literatura Portuguesa e Literaturas
Africanas de Língua Portuguesa (CAPES/UFF), 2021. Licenciado em Letras
(Português-Literatura), UFF, em 2017. e-mail:
adrianoguedes.carneiro@hotmail.com
Resumo: Este
artigo tem como objetivo analisar O desejo de kianda (1996), do escritor
angolano Pepetela, sob a perspectiva de que o mesmo discute a construção do
mito como forma de recuperar os rumos da revolução/independência angolana. A
kianda é o espírito das águas da mitologia kaluanda e que habita a antiga
Lagoa, e hoje Largo do Kinaxixi, bem na região central de Luanda. De Lagoa,
passou a Largo e cortaram a mafumeira, a sua árvore sagrada. No romance,
observamos esta força intemporal buscando recuperar seu território, como força
da natureza em face da cultura humana. Kianda precisa colocar abaixo os prédios
para recuperar seu lugar. As disputas políticas e a retomada da guerra civil,
entre o MPLA – Movimento pela Libertação de Angola e a UNITA – União Nacional
pela Independência Total de Angola – não importam, perante a força do espírito
ancestral de kianda. A personagem Carminda incorpora a transformação política
do MPLA que, de movimento socialista passou em 1992 para a defesa da economia
de mercado, após o naufrágio da União Soviética. E seu marido, João Evangelista
é uma espécie de flanêur tecnológico que, mesmo no auge da sua
observação, não consegue perceber o que está acontecendo à sua volta. Aguarda,
como todos, calmamente a queda inevitável de seu prédio, como metáfora do fim
do mundo em que todos aguardam pacientemente nas suas rotinas, enquanto o mundo
é destruído. Para tanto se utiliza do pensamento de Aby Warburg, Walter
Benjamin, George Didi-Huberman, Maria Thereza Abelha Alves, entre outros.
Palavras-chave: Kianda. Flanêur. Sobrevivência. Resistência. Passado colonial.